Ao longo deste semestre, o Núcleo de Música e Luteria levará a exposição “Olhar, Ouvir, Tocar” para São Miguel Paulista e região. São apresentados mais de quinze instrumentos musicais, como rabeca, cajon, caixa do divino, violão e xequerê, todos construídos artesanalmente pelos participantes da Oficina de Luteria, situada no Jardim Lapenna.
A estréia aconteceu de 24 de março a 12 de abril, no Conservatório Musical In Concert, onde a mostra foi vista por cerca de 600 pessoas. Até 15 de maio, os instrumentos ficam expostos no CEU Três Pontes. Depois, seguem para outros CEUs e universidades. “A proposta da exposição é divulgar o nosso trabalho. No In Concert, dialogamos com um público interessado em música e também com moradores da região, leigos no assunto”, explicou Inácio Pereira dos Santos Neto, coordenador do Núcleo ArteCulturAção, responsável pela Oficina de Música e Luteria. A experiência do projeto está registrada ainda no livro “Olhar, ouvir, tocar – experiência da educação pela arte”, que reúne os aprendizados e ensinamentos sobre a criação de instrumentos com técnica artesanal, para inspirar outras organizações.
Leandra Velani, diretora do In Concert, conta que a ideia original era apenas mostrar aos alunos o trabalho de um projeto social que existe próximo ao conservatório. Ao conhecer os instrumentos, ela resolveu incluir uma série de palestras na programação, contextualizando o papel de cada um na cultura brasileira. “Os alunos ampliaram os horizontes e ficaram surpresos em conhecer o pessoal que trabalha na Oficina de Luteria”, salienta.
Madeira reaproveitada
Um desses luthiers é o aluno, David Souza Rocha, de 20 anos, que recolhe das ruas madeiras jogadas no lixo para construir rabecas, violinos, violões e alaúdes. “É muito especial transformar algo rejeitado em música. A qualidade dos instrumentos criados com madeira reaproveitada não fica atrás de muitos que são produzidos industrialmente”, diz David.
Na abertura do In Concert, ele executou a música gótica “Lacrimosa” em seu violão feito de madeira oriunda de caixas de bacalhau da Noruega, coletada no Mercadão Central de São Paulo. David aproveitou a ocasião para narrar sua história com a música e a luteria. Quando criança ganhou da mãe um violão, que aprendeu a tocar na igreja. Depois, passou para o violino. No ano passado, desenvolveu a habilidade de construir instrumentos na Oficina de Música e Luteria, da Fundação Tide Setubal. Sem recursos para comprar material, buscou madeiras abandonadas pelas ruas da cidade. “Transformei gaveta em violino, guarda-roupa em alaúde. A luteria é preservação não só cultural, mas também ambiental”, relatou o jovem que, hoje, já vende suas criações.
As instituições que tiverem interesse em receber a exposição podem entrar em contato com a Oficina de Música e Luteria, pelo e-mail: inacio@ftas.org.br ou pelo telefone: (11) 2956-0091.