A Pesquisa Doação Brasil 2022 representa um marco na compreensão do papel e da transformação da cultura de doação no Brasil. Com coordenação do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) e Charities Aid Foundation (CAF) e realização dos Instituto Ipsos, o estudo é uma valiosa fonte sobre o engajamento cívico e a empatia dos brasileiros.
Assim sendo, a pesquisa mostra como cada indivíduo pode ser um agente de mudança na sociedade. Antes da primeira edição, em 2015, não havia informações confiáveis sobre doações individuais, mas agora, observa-se uma evolução.
A edição 2022 da Pesquisa Doação Brasil revela que 84% das(os) brasileiras(os) com rendimento superior a um salário mínimo fizeram doações em 2022. Trata-se de aumento significativo em relação aos 66% de dois anos antes.
Segundo cálculos realizados pela Ipsos, somente em 2022 as doações institucionais foram da ordem dos R$ 12,8 bilhões. Ainda assim, segundo Helio Gastaldi, diretor de Public Affairs na Ipsos, “o valor proporcional ao PIB é ainda muito baixo, o que nos oferece muita oportunidade de melhoria.”
Seria essa tendência de crescimento na cultura de doação um sinal promissor de uma sociedade mais solidária e comprometida com a redução das desigualdades e a proteção ambiental? Fatores geracionais e mudanças no entendimento de como o campo do investimento social privado (ISP) pode atuar apontam sinais nesse sentido.
Sobre doações e fatores geracionais
Um aspecto metodológico da Pesquisa Doação Brasil 2022 diz respeito ao enfoque em dados sobre a geração Z. Ou seja, trata-se de jovens nascidas(os) entre 1996 e 2004. Apesar de compor a menor parcela de doadoras(es), esse grupo tem o potencial de desempenhar um papel na consolidação da cultura de doação no país. Nesse sentido, as informações coletadas mostram como essa geração se relaciona com a doação. Desse modo, tais indicadores podem orientar o desenvolvimento de estratégias para envolvê-la de maneira mais eficaz.
No que tange a essa parcela, Renata Bourroul, consultora técnica da Pesquisa Doação Brasil, também destaca o poder de influência que motiva este grupo a doar. “As mídias sociais têm sido fundamentais para a participação dos jovens nas doações. Entre a geração Z, o valor de alcance das mídias e influencers digitais é de 25% dos doadores.”
Nesse contexto, o estudo aborda também as motivações por trás das doações, sobre quem são os beneficiários e quanto foi doado. Além disso, analisa o comportamento dos não doadores, que, mais do que nunca, mostram disposição para se tornarem doadores.
As causas são importantes para o doador escolher uma instituição. De acordo com a Pesquisa Doação Brasil 2022, a causa da infância ocupa o primeiro lugar na preferência da população brasileira Em 2022, quase a metade (46%) das(os) doadoras(es) declararam ter feito doações para essa causa. Mas, também vale ressaltar o salto registrado na causa de pessoas em situação de rua: o patamar saiu de 1% em 2020 para 10% em 2022.
Mais perspectivas sobre a cultura de doação
Em um trecho da Pesquisa Doação Brasil 2022, a desigualdade racial e de gênero aparece como um dos motivos centrais para se fortalecer a cultura de doação no país. Um exemplo nesse cenário é o Matchfunding Novos Caminhos, da Plataforma Alas. A campanha de financiamento coletivo apoiou lideranças negras e de trajetória periférica contempladas em edições anteriores do Edital Traços, também da Plataforma Alas, no segmento de política institucional. Assim sendo, as doações para as vinte lideranças apoiadas totalizaram R$ 285.827.
Essa perspectiva dialoga com a centralidade dos debates do 12° Congresso Gife. À época, Cássio França, secretário-geral do Gife, destacou que “precisamos de mudanças sistêmicas e a provocação para vocês, hoje, é que entremos no lugar de imaginar que estamos fazendo ou pouco ou que dá para fazer mais.”
Durante o mesmo congresso, Maria Alice Setubal, presidente do Conselho Curador da Fundação Tide Setubal, destacou como essas pautas precisam fazer parte das estruturas de organizações filantrópicas. “Precisamos olhar para dentro e ver como estamos para podermos olhar para fora, pois isso é muito importante. Estamos fazendo esforços para haver mais pessoas negras nas organizações e abrir para as questões LGBTQIAP+ nas nossas instituições? Isso é fundamental.”
Por fim, ao dialogar com essa perspectiva, outro ponto importante revelado pela Pesquisa Doação Brasil 2022 diz respeito a rápida evolução da cultura de doação no Brasil, especialmente considerando o contexto desafiador da pandemia de Covid-19. Aumentar a conscientização sobre o poder da doação individual é fundamental para avançarmos na construção de uma sociedade mais justa e sustentável.
Portanto, esta terceira edição 2022 da Pesquisa Doação Brasil não apenas celebra os avanços alcançados, mas também destaca a importância contínua de fortalecer a cultura de doação no Brasil, inspirando a sociedade a contribuir ainda mais para um futuro melhor.
Saiba mais
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+ Confira os debates realizados durante o 12° Congresso Gife
Texto: Daniel Cerqueira