O Hip Hop é uma cultura que une diferentes elementos em torno do mesmo ideal. Ela surgiu nas periferias de Nova Iorque na década de 70, onde violência e crime eram muito comuns. A expressão artística através do graffiti, breakdance, rap e discotecagem era o que dava voz para essa população tão marginalizada. Não muito diferente do que acontece ainda hoje nas periferias paulistana, onde o Hip Hop tem maior expressão e força.
Os diferentes elementos que compõe a cultura Hip Hop estiveram presentes no VII Encontro de Cultura Hip Hop de São Miguel, realizado no CDC Tide Setubal no dia 20 de abril, num evento de mais de doze horas. “É a combinação certa!” diz Yuri Pinto, 21 anos, que foi ao evento com a namorada, Josilene Rodrigues, 33. Ambos são moradores de Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo, e cruzaram a cidade numa viagem de quase 3 horas especialmente para assistir aos shows do SNJ e Função RHK.
Eles não foram os únicos a encarar uma longa viagem para participar do Encontro. Duere Oliveira, 28 anos, que gosta de ser chamado pelo apelido de Jota_R veio do Jaraguá, zona oeste de São Paulo. Ele diz gostar muito de rap e ter vindo para curtir as apresentações do gênero, em especial as de Nocivo Shomon e SNJ. Ele também ressaltou a importância de se unir os diferentes gêneros que compõem o Hip Hop num mesmo evento. “Tem que usar um para divulgar o outro” reforça.
Eduardo Xyrox, 30 anos, graffiteiro desde 1996, também pontuou a importância de um evento que una todos os elementos do Hip Hop. Ele participa do encontro desde 2007 e estava bastante contente com a realização de mais uma edição. “Este evento é gratificante. O mais importante é fortalecer a cultura hip hop, não só com o graffiti, mas com a música, a dança, com todos os elementos”, disse.
A união de todos os elementos é o que tornou o evento especial para o graffiteiro Gryllo, 30 anos “Nos outros eventos falta unir todos os elementos do Hip Hop”, pontuou.
O show do grupo paulista de Rap SNJ foi uma das atrações mais aguardadas do evento. Em conversas com o público, muita gente declarou ter vindo ao encontro especialmente para assistir este show. É o caso de Nádia Ubaldo, 27 anos, que foi ao evento com sua amiga Ana Paula Dias, 26 e sua filha Elisa, de 1 ano e 6 meses, todas moradoras de São Miguel Paulista. Apesar de a atração que mais aguardavam ver ser o show do SNJ e do CausaP, elas também vieram ver os graffitis que estavam rolando ao vivo desde as 10h da manhã.
A graffitagem ao vivo tomou boa parte do evento, estendendo-se até o meio da tarde. Foram 14 painéis espalhados pelo CDC sendo pintados por mais de 14 graffiteiros diferentes. Um deles foi Fernando RV, 34 anos, que participa do evento desde sua primeira edição. “É uma forma de mostrar nossa arte e interagir com a comunidade” declara ele.
Outra participação de destaque foi a da dupla Lamah, Laís e Marisa, que uniram suas iniciais e deram o nome da dupla, “Lamah”. Elas grafitam há mais de quatro anos e hoje em dia até tem a arte como profissão, como conta Marisa, 26 anos, que dá oficinas de graffiti na Fundação Casa.
Laís Rodrigues, Fernando Ribeiro e Amanda Steron, jovens com idades entre 17 e 19 anos, participantes das oficinas de audiovisual do Instituto Criar foram ao Encontro de Cultura Hip Hop para preparar um documentário com o tema minorias. Em suas pesquisas, eles chegaram à conclusão que meninas que fazem graffiti eram uma minoria, uma vez que a área é dominada por homens. Questionada sobre o tema, Marisa, da dupla Lamah, responde “Não tem muitas meninas, mesmo. E as que existem estão bem espalhadas pelas regiões da cidade, então fica difícil conhecê-las”.
Por volta das 15h, o evento abriu espaço para uma oficina de graffiti. Cícero, 26 anos, que assina seus graffitis como Gnomo, foi o professor da vez. “Tinha que ter mais eventos desses, em todas as escolas e instituições da região” diz ele, enquanto dava dicas para Tabatha Katagiri, 14 anos, melhorar seu desenho. “Gosto muito de desenho e queria aprender a fazer isso de um jeito diferente, por isso escolhi o graffiti”, conta ela que já participa de oficinas de graffiti há 1 ano.
Enquanto aconteciam os graffitis, o DJ Negrito cuidava da discotecagem. Caixas de som espalhadas pelo CDC tocavam rap. Os amigos Lucas Beltrão e Danilo Freitas, ambos com 18 anos, e Guilherme Santille, 20, curtiam o som enquanto aguardavam os shows de rap e a batalha de break, que começou por volta das 18h30. “A gente acabou de chegar e tá curtindo muito, vamos ficar até o final. Este evento é muito bom para a periferia, oferecendo arte, cultura, um som. Não tem muito disso por aqui”, diz Lucas.
Outra pessoa que esperava bastante a batalha de break era Kelly Álvaro, 31 anos. “Vim porque gosto muito da cultura hip hop” diz ela, que também aguarda os shows de rap. “Sou fã do SNJ, nunca tem show deles por aqui”. Enquanto conversamos com Kelly, seu filho pequeno chegava perto da lona onde os B.Boys se apresentavam. “Estou iniciando meu filho na cultura hip hop, ele já está até dançando break” conta.
O evento rolou das 10h às 22h, no CDC Tide Setubal e teve a participação dos graffiteiros Fernando RV, Dumeen, Grylo, Xyrox, Ignoto, Lamah, Bozer, Manulo, Bó, Totó, Ilegal, Cidres, Zíper, Sinha, Alex Antunes e Feik. A discotecagem ficou por conta dos DJs Negrito, Elvis, e Davisaw. A batalha de b.boys foi conduzida por Ninjinha e seus convidados. A noite, e para fechar o evento, rolaram os shows do SNJ, CausaP, Função RHK, Nocivo Shommon + Projeto Rap Móvel e DD Rimadora.