Fundação Tide Setubal
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Zona Sul discute cidades e territórios seguindo ciclo de debates

Prática de desenvolvimento

17 de maio de 2016
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“Aqui no Jardim Ângela, quando encontro uma pessoa no ponto de ônibus e pergunto: ‘está indo passear? ’ Ela responde: ‘sim, estou indo para a cidade’. Ou seja, a cidade ainda não está aqui! Esse é o grande desafio para nós hoje”, destacou Padre Jaime Crowe, líder da Paróquia Santos Mártires, em sua fala inicial, na abertura da roda de conversa Direito à cidade que discutiu os temas, educação, território, violência e segregação social, realizado no dia 12 de maio, em parceria com a Paróquia Santos Mártires e com a Folha de S.Paulo. A roda na zona sul foi o segundo encontro preparatório para o evento que celebrará os 10 anos da Fundação Tide Setubal o Seminário Internacional Cidades e Territórios: fronteiras e encontros na busca da equidade, que acontece no próximo dia 14 de junho, na Fecomercio, Bela Vista, São Paulo (SP).

 

Debateram o tema: Helena Singer, doutora em Sociologia, com especialização em Sociologia dos Conflitos pela Universidade da Pensilvânia e pós-doutorado pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre o Ensino e Diversidade da Universidade Estadual de Campinas, Anderson Severiano Gomes, mestre em Educação, professor de Cursos de Formação de Professores e gestores na UFSCar e diretor CEU EMEF José Saramago, Guilhermo Aderaldo, doutor em Antropologia Social e professor de Antropologia da Universidade de São Paulo – USP e Douglas Belchior, professor, editor do blog negrobelchior.cartacapital.com.br, mestrando em Ciências Sociais e Humanas UFABC, militante do movimento negro e dos cursinhos universitários.

 

Helena Singer, destacou a experiência em pesquisas sobre as escolas democráticas e falou da importância da educação exercitar a democracia além da gestão. “A democracia real não é somente a democracia da gestão, mas também a do conhecimento. A escola democrática é aquela que faz da realidade onde está inserida parte do seu currículo pedagógico “.

 

Singer apontou a ausência de escolas públicas que se aproximam dessa metodologia, mas ressaltou duas experiências localizadas no Jardim Ângela. “A Escola Municipal de Educação Infantil Chácara Céu Azul e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Campo Limpo são experiências que nasceram e foram construídas de forma individual pela população”.

 

Helena passou a palavra para Antônio Graciano, diretor da escola citada, que estava presente na roda de conversa. “Precisamos pensar em cidades educadoras e isso só acontece se ela pertencer a escola e vice e versa. Quando agimos dessa forma, fazemos com que as crianças e jovens percebam o espaço da escola, do território e a cidade de uma forma diferente e única”, diz.

 

Anderson Severiano Gomes abordou a necessidade de mudar a lógica de aplicação dos direitos e da construção de equipamentos públicos na periferia. “Queremos que o público seja público de fato. A cidade, a saúde, a escola e outros espaços não são nossos. Precisamos mudar esse quadro, para isso, nós da periferia, precisamos ser ouvidos e colocados como protagonistas”, reivindica o mestre em educação.  Severiano destacou ainda a importância das políticas públicas não virem prontas. “Elas têm que ser construídas de forma coletiva na periferia, aqui é o novo centro, precisamos atender e desenvolver novas perspectivas”. Anderson finalizou afirmando: “nós temos que nos unir e ocupar os espaços para transformar, temos que nos fazer vivos e presentes nesses espaços. Talvez essa seja uma lógica quilombola, talvez sejamos novos quilombos. Precisamos mudar a lógica, para isso precisamos lutar e a luta começa agora”.

 

Guillhermo Aderaldo trouxe para o debate algumas observações feitas ao longo de sua pesquisa de doutorado. Seu trabalho analisou o Coletivo de Vídeo Popular (CVP), uma rede de coletivos de diversas regiões da cidade de São Paulo, unida pelo interesse de usar as ferramentas audiovisuais para levantar e debater questões políticas, principalmente relacionadas às regiões periféricas. “Meu achado nessa rede é justamente o que os atores pesquisados entendem por periferia: uma relação entre diferentes grupos, de diferentes espaços. Nesse caso, a periferia está em diferentes espaços da cidade. A periferia está no rapa no centro da cidade”. A análise mostrou que as produções o CVP apresentavam o olhar dessa experiência urbana marcada pela falta de direitos a cidade, formada por pessoas que são excluídas do cenário político, econômico e social, ou seja, da periferia. “Nas produções do Coletivo a cidade não é um recurso ilustrativo para o audiovisual, mas sim compõe o material que tem o objetivo de contribuir para a transformação da própria cidade”.

 

Douglas Belchior destaca que é preciso um retorno a história do Brasil para discutir as temáticas colocadas para essa roda de conversa. “Desde 1500 a cidade se organiza com a lógica de quem tem mais poder. Com base nessa sociedade é que as cidades estão construídas, os mais ricos são donos de tudo, só não mais das pessoas. E os pretos e pobres foram e são empurrados para as bordas”.

 

Para Belchior, a cidade se organiza em cima do poder de quem a domina, da privatização dos espaços. “Eu tenho que discutir direito à cidade, porque ela não é minha. Queremos continuar com o modelo de cidade deles ou queremos a nossa cidade? ”.

 

Thais Fernandes Lima, moradora da região e arte educadora na periferia desde os 16 anos, participou da roda de conversa concorda com a fala de Douglas Belchior e complementa, “debater sobre direito à cidade dentro da periferia é reconhecer como parte da cidade uma população que não tem acesso aos seus direitos. Isso legitima as ações que temos feito para sobreviver e contribui para a construção de mais pontes para esse outro lado da cidade”.

 

 

Saiba mais

 

Para mais informações sobre o Seminário Internacional Cidades e Territórios: encontros e fronteiras na busca da equidade, acesse folha.com/cidadeseterritorios

 

Saiba mais também sobre as rodas de conversa na zona leste (clique aqui) e no centro (clique aqui)


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