Fundação Tide Setubal
Imagem do cabeçalho
Imagem do cabeçalho

Dez livros de autoras para mostrar que as lutas do Dia Internacional da Mulher acontecem todos os dias

Categoria

8 de março de 2024
Compartilhar:

Seja por meio de obras de ficção ou que analisam a realidade tal qual a conhecemos, ou obras de autoras brasileiras ou estrangeiras, todas elas nos lembram de que todos os dias devem ser encarados como o Dia Internacional da Mulher.

 

Caso você esteja lendo este conteúdo no próprio 8 de março ou em qualquer outra data, é fundamental você ter algo em mente. No caso, as lutas que motivaram a criação da data e os ideais de igualdade de gêneros devem ser colocados em prática todos os dias.

 

Nesse sentido, montamos a lista de livros a seguir para relembrar a razão de ser do Dia Internacional da Mulher e de todas as nuances nesse contexto. Independentemente de se tratar de motivos subjetivos ou socioeconomicamente estruturais, assim como aspectos simbólicos ou físicos, as obras a seguir nos induzem a uma série de reflexões sobre a data. Idem sobre o quanto ainda precisamos caminhar em favor da equidade plena.

 

Confira a seguir dez obras que reproduzem, cada uma à sua maneira, os ideais do Dia Internacional da Mulher. Boa leitura.

 

Capa do livro "A Cabeça do Cachorro", de Socorro Acioli.A Cabeça do Santo, de Socorro Acioli

O tom de realismo fantástico da obra tem razão de ser: a escritora cearense Socorro Acioli deu o pontapé inicial na obra ao participar de uma oficina literária em 2006, ministrada pelo lendário escritor colombiano Gabriel García Márquez. E a experiência adquirida durante esse processo a motivou a estruturar a história.

 

Na trama propriamente dita, o ponto central é a trajetória de Samuel, o protagonista. Com ares clássicos da jornada do herói, o jovem coloca o pé na estrada a caminho de Juazeiro do Norte. O motivo: para encontrar a avó e o pai após sua mãe lhe fazer esse pedido – ela o faz em seu leito de morte.

 

Ao chegar a Juazeiro, ele parte rumo à cidade de Candeia, onde se hospeda em um lugar no mínimo incomum. No caso, a cabeça oca e gigantesca de uma estátua inacabada de Santo Antônio torna-se seu abrigo. Como se não fosse o bastante, o jovem Samuel dá-se conta de que começa a ouvir uma profusão e confusão de vozes quando está dentro desse mesmo lar temporário. E não é por acaso: trata-se de preces feitas a Santo Antônio nas quais as pessoas falam sobre amor.

 

Capa de "A Cachorra", de Pilar Quintana.A Cachorra, de Pilar Quintana

Submetida a uma vida marcada por tragédias e pela solidão, Damaris, a protagonista da história, decide adotar uma cachorra de uma vizinha por meio de um ato impulsivo. A partir disso, o animal, como o título da obra sugere, passa a ter papel central na história e no arco narrativo da protagonista. Logo, em meio à confusão de sentimentos de dimensões e matizes diversos e extremos, a personagem lida com dúvidas sobre o sentido da vida e se ela perdeu de vez o rumo e o controle de sua trajetória.

 

Capa do livro "A Cor Púrpura", de Alice WalkerA Cor Púrpura, de Alice Walker

Um clássico da literatura estadunidense e eternizado na sétima arte por meio do trabalho genial de Whoopi Goldberg e Steven Spielberg, entre outros, o livro apresenta uma radiografia do que nunca mais deve ser repetido em termos históricos, sociais e humanitários. Ou seja: está na lógica de que nunca se deve esquecer para nunca mais acontecer novamente.

 

A trama apresenta uma série de violências de gênero por meio da história de Celie. Ela sofre com a normalização da barbárie que marcou a primeira metade do século XX – neste caso, no Sul dos EUA, em meio à vigência das leis Jim Crow e à subalternização do papel da mulher na sociedade. Submetida a abusos psicológicos e físicos e à subjugação de sua existência, sua perspectiva vem à tona a partir da troca de cartas com Nettie, sua irmã missionária, e com Deus.

 

Capa de "Calibã e a Bruxa", de Silvia FedericiCalibã e a Bruxa, de Silvia Federici*

A autora mostra como a caça às bruxas na Europa do século XV e o controle sobre a capacidade reprodutiva da mulher foram fundamentais para o avanço do sistema capitalista.

 

É uma leitura importante por explicar a divisão de gênero no trabalho e na lógica de funcionamento do sistema capitalista. Isso reflete-se na forma de organização do mercado de trabalho no Brasil. No caso, por que a maioria dos postos de cuidado e serviços domésticos é ocupada por mulheres negras?

 

Uma de suas principais referências bibliográficas é Maryse Condé, escritora guadalupense. Uma nova versão de livro de Condé, Eu, Tituba: A Bruxa Negra de Salem, foi traduzida no Brasil. Esse romance baseado é em fatos reais que narram um pouco do que foi a caça às bruxas nas Américas.

 

Federici reconhece que o termo “bruxa” nasceu com as mulheres negras e indígenas no Sul Global. Além disso, segundo a reflexão de Federici, o processo colonizatório não teria acontecido sem sua caça aqui também. A caça às bruxas é uma realidade até hoje em África.

 

*Dica de Kenia Cardoso, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial da Fundação Tide Setubal

 

Capa de "Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: Branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo", de Lia Vainer SchucmanEntre o encardido, o branco e o branquíssimo: Branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo, de Lia Vainer Schucman

O livro é baseado na tese de doutorado de Lia Vainer Schucman em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Sua abordagem mergulha nos diversos aspectos e construções sociais que resultam no conceito que conhecemos como branquitude.

 

Nesse sentido, por meio de pesquisa que incluiu a realização de diversas entrevistas, a autora identifica pontos objetivos e subjetivos que fazem uma parcela populacional significativa sobrevalorizar – e retroalimentar – atributos inerentes a pessoas brancas. Idem no que diz respeito à desvalorização de características da população negra, passando por fatores econômicos, sociais e fenotípicos.

 

Por fim, a obra mostra uma perspectiva dolorosa e que parece receber menos atenção do que merece: como aspectos subjetivos sustentam estruturas excludentes na sociedade. E, ao mesmo tempo, como eles são normalizados a ponto de sequer serem vistos como problemas dentro dessa lógica.

 

Capa de "Hibisco Roxo", de Chimamanda Ngozi AdichieHibisco Roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie

A aclamada escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie dispensa apresentações – e sua obra idem. Assim sendo, o igualmente clássico Hibisco Roxo retrata as marcas do colonialismo europeu, do fundamentalismo religioso e de vieses de gênero por meio da trajetória da adolescente Kambili.

 

A jovem é filha de Eugene, famoso industrial nigeriano. A partir de sua expressão religiosa, Eugene causa sofrimento ímpar à sua família. De quebra, isso o faz rejeitar o pai, contador de histórias encantador, e a irmã, professora universitária, por temer que isso o faça ser enviado ao inferno. Todavia, como reflexo de uma série de contradições inerentes à condição humana, o mesmo Eugene é apoiador do jornal mais progressista do país. Em meio ao arco problemático resultante do comportamento de seu pai, Kambili passa algum tempo na casa de sua tia e acaba se apaixonando por um padre, que se vê obrigado a deixar o país.

 

Pode-se dizer que essa série de desventuras familiares funciona como pano de fundo para Chimamanda Ngozi Adichie apresentar um retrato nítido da Nigéria, no que diz respeito a questões existenciais e à relação do país com o continente africano.

 

Capa de "Kindred: Laços de Sangue", de Octavia ButlerKindred: Laços de Sangue, de Octavia Butler

O que você faria se estivesse realizando tarefas comuns do dia a dia e, no instante seguinte, se visse em meio a outra realidade na qual ser quem você é fosse uma ameaça à própria sobrevivência?

 

Pois bem, esse é o ponto de partida da ficção científica Kindred: Laços de Sangue. Nesse sentido, a escritora Dana, protagonista da trama, passa por um incidente surreal exatamente no dia em que completa 26 anos: logo após sentir tontura repentina, ela acorda em uma cidade do Sul dos EUA, em pleno século XIX – ou seja, quando a escravização de pessoas negras era normalizada. E, em virtude do modo como encara e se relaciona com o mundo, ela vê, então, sua vida em risco iminente e contínuo.

 

A obra, vale dizer, foi transformada em série e está disponível com o título Kindred: Segredos e Raízes na plataforma de streaming Star+.

 

O Parque das Irmãs Magníficas", de Camila Sosa Villada O Parque das Irmãs Magníficas", de Camila Sosa VilladaO Parque das Irmãs Magníficas, de Camila Sosa Villada*

Ao ter como ponto de partida as múltiplas possibilidades de ser e existir como uma pessoa dissidente de gênero, a obra mergulha no universo travesti por meio das vivências de Camila, protagonista da história, a partir do seu ingresso em um grupo composto por outras travestis. Os relatos, por meio das lentes de Camila, retratam o universo no qual ela está inserida por meio de muita sensibilidade e fuga de estereótipos – inclusive de gênero.

 

*Dica de Gaya Vieira, analista de Comunicação da Fundação Tide Setubal, e Fabiana Tock, coordenadora do Programa Cidades e Desenvolvimento Urbano

 

Capa de "Um Exu em Nova York", de Cidinha da SilvaUm Exu em Nova York, de Cidinha da Silva

Composta por 19 contos, a obra apresenta diversas abordagens sobre tensões quando o assunto diz respeito às religiões de matriz africana e estigmas sociais. Ao considerá-las como pontos de partida para discussões sobre diversos temas, passando por política, racismo religioso, grupos sociorracialmente minorizados e perda generalizada de direitos. Vale dizer que tais tópicos vêm à tona, de modo empático, por meio de vivências das personagens criadas pela escritora.

 

Por meio de narrativa ágil e envolvente, Cidinha da Silva passa por esses e outros temas. Desse modo, ela faz uma radiografia sobre os dias atuais.

 

Capa de "Véspera", de Carla MadeiraVéspera, de Carla Madeira

A obra, cujo desenrolar é cortante e envolvente, pode ser vista a partir de duas perspectivas – ou as duas ao mesmo tempo. Uma interpretação possível é: a história de uma mulher que se vê em meio a um casamento infeliz. Em um momento de desespero, abandona o seu filho em um espaço público. Contudo, mesmo após se arrepender instantes depois, retorna para buscá-lo, mas não o encontra mais – e percebe que sua vida nunca mais será a mesma.

 

O outro prisma possível: dois irmãos, batizados como Caim e Abel em virtude de um ato simbolicamente violento cometido pelo pai contra a mãe, têm trajetórias marcadas por diferenças que aumentam conforme os dois crescem. E as disparidades entre ambos são fatores preponderantes para a perspectiva descrita no parágrafo anterior.

 

Qualquer que seja o ponto para análise, a condução narrativa de Carla Madeira guia quem ler Véspera a uma história marcada por relações fadadas ao fracasso e a diversas reflexões sobre o modo como interagimos com o mundo e as pessoas ao nosso redor.

 

Saiba mais

+ Cinco obras para refletir sobre as novas economias para transformação social

 

+ Livros para pensar habitação e urbanização de favelas

 

+ Cinco livros para entender e se engajar na luta antirracista

 

+ Cinco obras para pensar o orçamento público e o combate às desigualdades

 

+ Cinco obras para se pensar garantia de direitos e desenvolvimento das periferias

 

+ Quais são os fatores que desafiam a democracia brasileira?

 

+ Entrevista com Lia Vainer Schucman


Compartilhar:

Notícias relacionadas

Nós utilizamos cookies para melhorar a experiência de usuários e usuárias que navegam por nosso site.
Ao clicar em "Aceitar todos os cookies", você estará concordando com esse armazenamento no seu dispositivo.
Para conferir como cuidamos de seus dados e privacidade, acesse a nossa Política de Privacidade.