A partir do artigo Letramento racial: um desafio para todos nós, Neide A. de Almeida, socióloga, Mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas e coordenadora do Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil, preparou um série de perguntas com dicas e matérias de apoio para que os professores trabalhem o tema sobre letramento racial e história na escola.
Dica n° 1
É fundamental que as escolas se comprometam com a implementação da Lei n° 10.639/03 e a 11.645/08, abordando a história e as culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas de forma orgânica e sistemática. As ações em datas específicas, como o 20 de novembro, são importantes, mas insuficientes. Essas temáticas precisam ser incluídas em todas as esferas da vida escolar.
- Você conhece a lei 10.639/03?
- Você já se perguntou sobre os efeitos provocados pelo fato de nossa história ser contada, quase exclusivamente a partir da perspectiva eurocêntrica?
- Que materiais você conhece e que abordam essas temáticas?
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Dica n° 2
Admitindo que o racismo é questão atual, os currículos têm de ser discutidos e atualizados de modo que coloquem perspectivas negras em evidência. É preciso incluir autores que representem a perspectiva africana e afro-brasileira nas diferentes áreas de conhecimento. É urgente também ler sobre distribuição de renda, escolaridade, moradia da população negra. Perceber a construção das identidades raciais e conhecer a História são ações fundamentais para enfrentar o racismo e preconceito
Em que lugares de nossa cidade há maior concentração de moradores negros? E de brancos?
- Qual a porcentagem de alunos negros que estudam nas universidades públicas?
- Quantas crianças negras estão fora da escola? E quantas crianças brancas?
- Quem são as pessoas que ocupam os principais lugares de poder na cidade, no país em que vivemos?
Dica de leitura: relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) segundo o qual há racismo institucional no Brasil
Dica n° 3
Como professores e gestores lidam com as manifestações racistas que ocorrem no espaço escolar? Elas são explicitadas? Discutidas? A escola investe na formação de seus docentes para a abordagem das relações étnico-raciais? Embora ainda insuficientes há, hoje, importantes ações, pesquisas e materiais a respeito dessa temática. Desse modo, eles precisam integrar os referenciais para toda ação docente.
Então, em um país em que a maioria é “preta ou parda”, de acordo com as categorias utilizadas pelo IBGE,onde estão os médicos, escritores, engenheiros, advogados negros?
- E a respeito das cotas, você é a favor ou contra? Já parou para refletir a respeito desse tema tão polêmico?
- Se você é professora ou professor já incluiu esse tema em suas pautas de estudo e de ensino?
Dica de leitura: reportagem da Carta Capital segundo a qual a educação, como é atualmente estruturada, contribui para a perpetuação do racismo
Dica n° 4
Nesse sentido, cabe à escola apresentar aos estudantes a diversidade não apenas de textos, de temas, mas também de concepções de mundo, de modos de fazer e dizer. Assim, é fundamental que as escolas se perguntem a respeito da presença e da representatividade de autores e intelectuais negros em suas bibliotecas. Qual o lugar destinado às práticas de oralidade, tão importantes para os povos africanos e para nós, brasileiros? No cotidiano, no trabalho com a literatura, por exemplo, quantos livros de autores e autoras negras são apresentados aos alunos? Além disso, quais são as oportunidades proporcionadas para o contato com as personagens negras criadas por esses escritores e escritoras?
- Quantos médicos negros você conhece?
- Quantas advogadas negras? Engenheiros? Escritoras?
- Você já ouviu esses nomes: Juliano Moreira, Teodoro Sampaio, Luís Gama, Ruth Guimarães? Sabendo que são importantes personalidades de nossa história, por que será que pouco se sabe a respeito de suas histórias e de sua atuação na construção do nosso pais?
Dica: acompanhe a divulgação do Letras pretas: poéticas de corpo e liberdade – Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista.
Dica de leitura: o blog Nossa Escrevivência
Por fim, assista ao vídeo O perigo da história única, de Chimamanda Ngozi Adichie
Foto: Cotonbro Studio / Pexels