Por Daniel Cerqueira
Os serviços públicos, que são de extrema importância para o desenvolvimento de qualquer sociedade, têm tido altas demandas em áreas específicas, como a saúde. Para poder atender mais e melhor, as cidadãs e cidadãos têm à disposição uma variedade de serviços ofertados gratuitamente e que são, muitas vezes, desconhecidos da maioria. Preocupada com o acesso das populações periféricas a serviços de saúde mental, a Fundação Tide Setubal acaba de realizar e lançar o mapeamento dessa rede complementar e essencial.
Um levantamento recente realizado por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontam que para quase quatro entre dez brasileiros, se sentir tristes ou deprimidos passou a ser rotineiro após a pandemia, ao passo que três a cada dez entrevistados passaram a ter problemas de sono. Das 11.863 pessoas entrevistadas pela internet, mais da metade afirmou sentir ansiedade ou nervosismo desde então.
Já é consenso entre estudiosos do campo progressista e líderes sociais que as desigualdades foram ampliadas durante a pandemia. No campo da saúde mental, assim como nos demais, as populações periféricas têm ainda mais desafios a enfrentar. Tide S. Setubal Nogueira, coordenadora de Saúde Mental da Fundação e do projeto Territórios Clínicos, lembra que: “no contexto atual é premente que as ações no campo da saúde mental sejam cada vez mais expandidas, contemplando as periferias tanto no direito a serem escutadas quanto no acesso a formações que possibilitem que os espaços produtores de conhecimento teórico não se mantenham centralizados e, na maioria das vezes, elitizados”.
Diante deste quadro foi urgente pensar ações que contribuíssem para enfrentar as desigualdades. Com isso nasceram os Territórios Clínicos e o mapeamento de organizações que oferecem formação, supervisão, consultoria e atendimento clínico psicanalítico e/ou psicológico abertos à comunidade, que não façam parte da rede do Sistema Único de Saúde (SUS).
Territórios Clínicos e o mapeamento da rede complementar
O programa Territórios Clínicos tem como preocupação desenvolver e fomentar propostas na área de saúde mental nos variados territórios periféricos, buscando democratizar e descentralizar a produção de conhecimento e o atendimento psíquico.
Desse modo, compreender o tamanho da oferta de serviços complementares ao serviço público e facilitar o acesso das populações a estes espaços tornou-se o objetivo a ser alcançado. Um mapeamento foi a estratégia pensada para fazer a informação chegar.
Foram levantadas até o momento 106 iniciativas entre projetos, instituições e coletivos, principalmente na cidade de São Paulo, e que prestam algum tipo de atendimento psicanalítico direto ou indireto aberto à comunidade, que contemplam iniciativas como formação, pesquisa, supervisão e atendimento clínico.
A equipe, que conta também com Viviane Soranso, coordenadora do Programa Raça e Gênero, e Laís Guizelini, analista de Programas e Projetos, tem boas expectativas com a publicação do mapeamento. Elas esperam, ao mesmo tempo, promover um debate acerca da imensa centralização territorial que existe no que é ofertado em psicanálise e psicologia e estimular que novos projetos possam se inspirar nesses trabalhos para propor outras intervenções no campo da clínica social e pública.
Territórios Clínicos para além do mapeamento
O programa conta também com outras ações para atingir o seu objetivo principal. Há uma linha de fomento financeiro a projetos, pesquisas teóricas, grupos, iniciativas, coletivos dos diversos territórios que atuem no campo da saúde mental.
Para os anos de 2021 e 2022, sete projetos serão parceiros da Fundação Tide Setubal via Territórios Clínicos. São eles:
- Casa de Marias;
- Grupo Veredas – psicanálise e imigração;
- Instituto AMMA Psique e Negritude;
- Margens Clínicas;
- PerifAnálise;
- Roda Terapêutica das Pretas;
- SUR Psicanálise.
Há ainda, dentro da lógica para formar redes de ampliação e descentralização dos atendimentos como o Mapeamento, as propostas para:
- Criar conteúdos online para divulgar essas iniciativas mapeadas criando redes e conexões;
- Realizar entrevistas e conversas com psicanalistas que pesquisem e/ou atuem no campo social, como a série É Preciso Falar Sobre Saúde Mental, produzida em parceria com o canal Inconsciente Coletivo, do Estadão;
- Promover estudos teóricos da psicanálise com enfoque nas periferias e realizar um encontro bianual das diversas iniciativas apoiadas ou mapeadas para trocas de experiências.
Imersão no mapeamento
Acesse a página da iniciativa realizada pelo projeto Territórios Clínicos no site da Fundação Tide Setubal para conhecer o mapeamento e conferir as iniciativas que o compõem.