Por Amauri Eugênio Jr.
Apesar de diversas fake news relacionadas à finalidade e ao funcionamento da Lei Rouanet e do Bolsa Família, à ineficácia de medicamentos comprovadamente inúteis contra a Covid-19 e a um suposto plano globalista para destruir as famílias terem sido desmentidas por diversas vezes, sempre surge alguém – inclusive usando a estrutura governamental – para reforçar essa série de narrativas que, ao mesmo tempo, fragiliza a esfera democrática e coloca o bem-estar populacional em risco.
Desmentir estas campanhas de desinformação e dialogar sobre os verdadeiros objetivos desses temas são ações fundamentais para melhorar o nível do debate sobre política. E esse é o foco da quinta temporada do podcast Essa Geração, idealizado pela Fundação Tide Setubal e desta vez produzido pela Griô Podcasts.
A fase atual do podcast é produzida por Luciana Petersen e Caio Santos. A dupla esteve à frente das duas primeiras temporadas do projeto, sobre religião e família, respectivamente.
“Estamos em período eleitoral, uma fase sempre marcada por bombardeio de fake news. Para evitar esse processo, pensamos em trazer temas que foram alvo de desinformação e desconstruir essas grandes mentiras, ensinando no caminho como se constrói uma fake news e como podemos combatê-las no dia a dia”, explica Luciana.
Por informações verídicas e relações civilizadas
Entre janeiro e abril deste ano, 2.042.817 jovens entre 16 e 18 anos tiraram o título de eleitor para votar pela primeira vez. Nesse sentido, as presenças de Caio e Luciana na apresentação e na produção desta temporada reforçam a importância do diálogo sobre política pela perspectiva das juventudes, com as juventudes e para as juventudes.
Fernanda Nobre, gerente de comunicação da Fundação Tide Setubal, fala sobre o protagonismo que as/os jovens têm na produção de comunicação.
“Os reflexos da pandemia de Covid-19 e o momento democrático grave pelo qual o Brasil passa afetaram de modo intenso as juventudes, em particular as que vivem nas múltiplas periferias país adentro. Ao mesmo tempo em que elas se veem sem perspectiva econômica ou social, elas dão sinais cada vez mais fortes do seu protagonismo político. Isso passa por dialogar, de modo propositivo, sobre diversos temas que dizem respeito ao processo eleitoral e à vida política para muito além do voto”, destaca Fernanda.
O diálogo é, inclusive, um elemento central da temporada. Além do bate-papo com Gabriel Richard e Samela Sateré Mawé no primeiro episódio, os programas seguintes retratam lendas urbanas e aspectos relativos a temas que já têm sido usados à exaustão durante a campanha eleitoral, como o Bolsa Família, Lei Rouanet, mentiras inventadas à época da Covid-19 e o pânico moral envolvendo a estrutura familiar. Cada um deles conta com entrevistas realizadas com especialistas e pessoas envolvidas com esses mesmos temas.
De acordo com Caio Santos, as novas funções ocupadas pela dupla de apresentadores e produtores os permite sair “um pouco do foco da discussão” e abrir o debate para mais pessoas. “Conseguimos também criar um papo entre eu e Luciana – apesar de sermos grandes amigos, temos vivências completamente diferentes. Até por isso, buscamos um formato um pouco diferente das primeiras temporadas, mas com a mesma linguagem.”
Política é coisa de jovens, sim
O clima de extremismo político e de contínuos ataques a instituições democráticas tem impactado de modo significativo o modo como as juventudes têm lidado com a campanha eleitoral.
De acordo com o estudo Juventudes e 1° Voto, pesquisa qualitativa encomendada pela Fundação Tide Setubal e conduzida pela socióloga Esther Solano e pela cientista política Camila Rocha com jovens de 16 a 18 anos que votarão pela primeira vez em outubro de 2022, a maioria das/os entrevistadas/os entende que sair nas ruas é muito perigoso.
“As pesquisas mostram que, embora politizados as/os jovens tenham temor de se posicionar politicamente, o custo é muito alto: alguns temem agressões físicas, enquanto outros têm medo do isolamentos que isso pode gerar – o que acaba adoecendo e cansando mesmo. Então, conteúdos como o Essa Geração podem quebrar o receio de se falar de política”, pondera Caio Santos.
Luciana Petersen considera que, pelo fato de existir ser um ato político, ser jovem no Brasil equivale a ser atravessada/o politicamente de modo contínuo. “Vemos que essa geração tem buscado discutir cada vez mais temáticas sociais, embora alguns estejam desiludidos com a política institucional como a conhecemos. Disputar esses significados entre a nossa juventude é fundamental para termos um Brasil melhor para todas as gerações a partir do agora.”
No seu tocador
A quinta temporada do podcast Essa Geração pode ser ouvida nos principais agregadores de podcasts, como Spotify, Deezer e Apple Music. Para quem ainda não ouviu as quatro temporadas anteriores, vale a pena conferi-las e matatoná-las.