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Fomentar a potência de mulheres negras para construir uma sociedade mais justa

Esta é a primeira parte de reportagem especial sobre o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho

 

 

Por Thalyta Martins / Foto: Pexels / Picha

 

 

Antes de fundar o afrobuffet Kitanda das Minas, a chef e empreendedora Priscila Novaes trabalhava como operadora de telemarketing. Influenciada pela família, ela começou a preparar salgados e bolos para festas, quando passou também a vender café da manhã na estação Guaianases, da Linha 11 – Coral da CPTM.

 

Na mesma época, ela ingressou em um curso técnico em gastronomia, entrou em contato com movimentos sociais e passou a atuar com a Coletiva Mulheres de Orí. Essa experiência a ajudou a transformar o modo como trabalhava, muito graças ao contato mais aprofundado com sua ancestralidade.

 

“Quando me conectei com as mulheres negras que vieram antes de nós, essas primeiras empreendedoras da nação – quitandeiras, baianas de acarajé e mulheres de tabuleiro -, que passaram sua sabedoria de produzir e comercializar alimentos, percebi que é algo que merece ser contado, lembrado e valorizado. Mesmo com toda essa potência, ainda ocupamos a base dessa pirâmide que sustenta a sociedade.”

 

 

Imagem de Priscila Novaes, do Kitanda das Minas,. Ela está com o cabelo preso por uma tiara predominantemente verde, branca e azul, e usando uniforme branco de chef. Ela aparece sorrindo e segurando um acarajé. Ao fundo há uma parede com azulejos com tonalidade ocre e branca - a outra metade da parede é vermelha - na qual há uma prateleira com condimentos diversos. À direita há um fogão industrial e uma coifa.

Priscila Novaes (instagram.com/kitandadasminas)

 

 

A história de Priscila está longe de ser exceção. De acordo com o Relatório Especial de Empreendedorismo Feminino no Brasil, do Sebrae, 51% das mulheres negras empreendem por necessidade – para efeito de comparação, 35% das mulheres brancas estão nessa mesma realidade. Ainda, a disparidade dos indicadores de formalização é gritante: 21% das empreendedoras negras estão com esse status, ao passo que a taxa de profissionais brancas é o dobro.

 

No caso da fundadora do Kitanda das Minas, ela conseguiu contar com apoio para impulsionar o seu negócio: em 2016, ela foi uma das selecionadas do edital Fundo Zona Leste Sustentável, da Fundação Tide Setubal, que ofereceu formação voltada para o empreendedorismo – isso a permitiu desenvolver um plano de negócio e obter um capital semente para o crescimento do negócio.

 

 

Episódio da websérie Enfrente do qual Priscila Novaes participou

 

 

 

Enfrentar desigualdades para empreender

 

Desigualdades socioespaciais, raciais e de gênero estão diretamente relacionadas, logo, é inviável falar em empreendedorismo sem levá-las em consideração.

 

De acordo com Sauanne Bispo, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial da Fundação, “empreendedorismo requer conhecimento, empenho e muita determinação, características que o morador de território periférico adotou  desde sempre. Resiliência está no DNA desta persona, assim como o viés da discriminação está naquela pessoa que tem a possibilidade de dar acesso ao mercado e crédito a esse empreendedor, e que opta em negar isso”.

 

Alguns programas da Fundação Tide Setubal que valorizam características inerentes ao empreendedorismo e as associam a medidas para enfrentar desigualdades diversas são:

 

 

  1. Matchfunding Enfrente, realizado pela Fundação em parceria com a Benfeitoria;
  2. Edital Elas Periféricas, que está em sua terceira edição e potencializará, em parceria com o Tik Tok, mais de 60 iniciativas lideradas por mulheres negras em todo o Brasil;
  3. Empreendedoras Periféricas, executado em parceria com o Instituto Grupo Pão de Açúcar, que visa promover habilidades socioemocionais e de gestão, além de apoio financeiro individual.

 

 

O que essas ações têm em comum? Todas elas têm como foco o fortalecimento institucional de organizações e coletivos liderados por sujeitos periféricos – e, nos casos do Elas Periféricas e do Empreendedoras Periféricas, o recorte de raça e gênero é preponderante. “A Fundação Tide Setubal compreende a importância de olhar para essa intersecção, que é majoritariamente impactada com as desigualdades socioeconômicas no Brasil”, ressalta Sauanne Bispo.

 

O coletivo Mulheres de Orí é reflexo dessa lógica. O grupo idealizou, junto à chef Priscila Novaes, o projeto Afro Chef, selecionado na segunda edição do Elas Periféricas, realizada em 2019 – a ação era baseada no tripé composto por técnica culinária e formações em raça e gênero e em âmbito empreendedor.

 

Para Priscila, um dos resultados proporcionados pelo projeto Afro Chef foi o networking com demais mulheres e ações ter se tornado mais fácil. “Quando a gente se conecta com pessoas semelhantes, entendemos que os obstáculos e desafios são parecidos e trazem um fôlego na nossa caminhada diária. A execução desse projeto foi uma troca. Nós aprendemos muito também e algumas dessas mulheres são fornecedoras da Kitanda das Minas hoje, e isso também é um resultado importante.”

 

 

Confira a parte 2 desta reportagem

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